domingo, 15 de novembro de 2009

Despedida

Eu não consigo dizer adeus. A despedida, o abraço, a lágrima final, as palavras derradeiras ditas... Tudo isso simplesmente não combina. Não é certo ter que dizer adeus, não é certo ter que se despedir para talvez nunca mais encontrar. Dizer adeus - ou até mesmo um 'até logo' - deveria ser proibido.
Dizer adeus pra você é a pior de todas as coisas. Me despedir, olhando ao meu redor e sabendo que cada pedacinho do infinito estará sempre comprometido com a sua existência é muito mais doloroso do que qualquer outra coisa. Egoísta, eu sei. Talvez morar em cidades, países ou continentes diferentes não seja o maior problema de todos. A questão maior é saber que este talvez seja um adeus definitivo e que nossos problemas vão além das distâncias físicas. Você conhecerá outras pessoas, viverá outras emoções, passará por outras imensidões de experiências distintas... Se antes o que nos unia era nossa história, agora você poderá, sem remorso, passar uma borracha sobre cada linha escrita por nós e poderá escrever cada parágrafo novamente.
A distância tem dessas coisas. As barreiras antes meramente físicas tratarão logo de se transformar em barreiras psicológicas, emocionais. Você talvez um dia lembre-se de mim ao ver algum retrato ou quando conheça alguém que tenha o mesmo nome ou quando tome algum vinho parecido com algum vinho que a gente tenha tomado em uma noite dessas... Talvez, em alguma tarde, você ria de uma lembrança tola ou sinta saudade de alguma época do seu - do nosso - passado... Um dia, quando você se casar ou tiver filhos, se pergunte se a sua - a nossa - história teria sido diferente caso você tivesse decidido ficar. Algum dia, quem sabe, num futuro distante, encontre esta carta e se pergunte por alguns instantes por onde eu tenho andado...
Você terá uma casa nova, amigos novos, uma família nova. Eu talvez me case com alguém mais rico, talvez morra solteira, talvez me mude para Califórnia, talvez acabe num asilo antes dos sessenta... Talvez você só venha a me encontrar novamente em meu velório, talvez eu só tenha notícias suas através de algum obituário qualquer... Talvez a gente nunca mais se encontre.
No futuro, provavelmente, nós nem nos lembraremos de quão difícil foi nessa separação. Nós nos tornaremos lembranças boas, de um passado distante.
A idéia de ser somente sua primeira namorada - uma lembrança apagada, boba e desimportante - é talvez o que mais me incomode.
Não acho justo que nossa história - breve, admito - seja só mais uma dentre as tantas memórias que nós adquiriremos ao longo da vida.
Peço então, que um dia, caso você releia ou se lembre de minhas palavras, você se esforce para sentir o mesmo que deverá estar sentindo agora, quando lê estas palavras pela primeira vez.
Não admito dizer adeus, não admito que todo nosso sentimento se perca nos percalços da vida.
Não quero que todo o sofrimento e o amor seja em vão.
Espero, de coração, que você lembre de mim, de nosso amor juvenil, de todas as nossas conversas, de todo nosso sentimento. Que nosso adeus seja apenas um até breve.

Com amor,
Sua.

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